Estavamos quase a entrar no verão de 97, quando meu pai vindo do pomar me chama: "Olha o que estava pousado ali numa árvore". Abriu as mãos e revelou o Rodolfo. Confesso que à excepção deste pássaro, todos os outros me são indiferentes. Percebemos que o Rodolfo estava meio "amassado", provavelmente porque esteve à beira de se tornar em wiskies saquetas e que seria doméstico porque se deixava manipular sem nenhum problema. Percebemos que tal como estava não se safava. Fui buscar o guia de identificação de aves (em casa de biólogos o que não falta são guias que tudo quanto é ser vivo ou meio-vivo) e apresentamos um veredicto: Rola turca. As primeiras noites passou-as no meu quarto. Devem ter passado mais de duas semanas, quando a meio da madrugada ouvi um "cu-cu-ru" meio rouco e muito tímido. Acendi a luz, como se à laia de um diálogo de BD ainda por lá estivesse o balão do discurso. Não estava e conclui que tive uma alucinação auditiva. Só me desenganei 3 dias mais tarde. Chamei o meu pai a correr e a bicha continuou a cantar, como que a dizer que estava curada. Tentámos soltá-la, mas voou para dentro de casa e foi por aí que andou durante uns quantos anos. Como poleiro usava a nossa cabeça e a barriga do meu pai de onde limpava as migalhas do pequeno-almoço. Ao fim de algum tempo arranjamos-lhe uma casa na varanda... por muito que me custe a admitir era uma gaiola... mas era uma forma de a manter protegida, já que os gatos se tornaram presença assídua. Ao fim de dois anos, assumiu a casa como sua e pôs um ovo. A rola Rodolfo afinal não o era... mas nunca nenhum outro nome lhe assentou tão bem. Teve pretendentes e até um noivo que lhe (nos) fez a corte durante pelo menos 1 ano. Quando finalmente o meu pai autorizou e os fez partilhar casa, a Rodolfo ia desfazendo o pobre à bicada! Consumamos o divórcio. Ele só ao fim de alguns meses partiu (literalmente) para outra. Entretanto viu-nos crescer. Passou férias connosco. Passeou com o meu pai no pomar e no jardim. Pôs ovos. Nunca parou de os pôr... em vão. Tremia sempre que a poisavamos no nosso colo e cantava ao ritmo das nossas festinhas. Passou férias connosco. Cantava quando nas noites de outono e inverno acendíamos as luzes da cozinha onde a resguardavamos do frio, trocando-lhe as voltas ao dia e à noite.
Hoje, não cantou quando o meu pai desceu para preparar o pequeno almoço dele e dela. Tomavam-no juntos já há alguns anos. E não vai voltar a cantar...
Ooh...:( Custa tanto...:(
ResponderEliminar:( Vou sentir falta daquelas gargalhadas...
ResponderEliminarBeijitos
Que pena que já não há Rodolfo/a. :(
ResponderEliminarMas a história bonita que partilhou convosco já ninguém vo-la tira.
A verdade é que teoricamente já nos devia ter deixado há algum tempo... agora é habituar à ausência...
ResponderEliminarM. há pássaros e pássaros e este nosso era o melhor de todos!!
Que história tão linda! Sou muito lamechas e quando acabei de ler o texto os meus olhos estavam rasos de lágrimas.
ResponderEliminarTudo tem um fim.
A Rodolfo(a) escolheu-vos para levar uma vida feliz :)
ResponderEliminarbeijinhos