The underdogs


Acabaram os Jogos Olímpicos. Confesso que gosto destes momentos: europeus, mundiais seja do que for... tudo que nos permita ver o ser humano a ser super-humano para mim é como uma ida ao cinema. Nestes jogos Olímpicos a coisa não foi diferente mas chocou-me haver tanto comentariozinho sobre as medalhas que não “ganhámos”. Logo este “ganhámos” faz-me alguma espécie... Ganha quem dá o corpinho ao manifesto, nós quando muito, ganhámos orgulho por partilhar a nacionalidade com quem ganha o que quer que seja. E depois, não estou a par dos procedimentos, mas não creio que o Comité Olímpico tenha livro de reclamações para se poder protestar por um serviço que nos foi mal prestado.
Os atletas que chegam ao Jogos Fucking Olímpicos (como se diz em americano) levam uma vida de sacrifício, sacrifício da vida pessoal, da saúde do seu corpo e de tudo mais que os treinadores de bancada têm por garantido, a troco de pouco mais do que a satisfação pessoal de superar objectivos e de o poder fazer em nome de um País. É uma vida inteira a não ter manhãs na cama, noites na farra, fins-de-semana de passeio e muita força de vontade para ir mais longe, para fazer melhor, para se ser melhor. Basicamente para se ser um exemplo de excelência.
Sempre fui fraca atleta mas, os anos em que competi como jogadora de pólo aquático foram os mais loucos, ou mais duros e os mais fantásticos. Imagino que a minha experiência não tenha sido muito diferente daquela de muitos dos nossos atletas que agora estão a chegar do Rio de Janeiro: transporte feito no carro dos treinadores/pais/atletas, compra de equipamento do próprio bolso, viagens de 300km em dias de provas por não haver dinheiro para alojamento, não ter as infraestruturas necessárias para treinar... Se perante este cenário, se nos tivessem pedido resultados de encher o olho, estávamos bem tramadas. No primeiro jogo que fizemos, contra o Belenenses, em Lisboa, na piscina de 50 metros em que treinavam, tendo feito meia dúzia de treinos em metade de uma piscina de 25 metros onde tínhamos pé, e a acabar de ler as regras do jogo na camionete Hiace mais velha que a maioria de nós, o resultado foi de 37-1 (o jogo, na altura, tinha a duração de 28 minutos... e eu era, literalmente, do tamanho da perna de uma das jogadoras que tinham mais tempo de treino do que eu de vida). Ao terceiro jogo, levámos 47. Depois as coisas melhoraram e até chegámos a ganhar vários jogos e tivemos jogadoras a ir à Selecção. Ainda assim, o balanço nunca foi brilhante. Perdi a conta ao número de vezes que me perguntaram, ao longo dos 7 ou 8 anos que joguei, o porquê de continuar por lá. É claro que havia sempre aquela motivação dada pelos treinos mistos (e o que é que eu quero dizer com isto? Ver aqui e depois chamem-me burra se conseguirem) mas era essencialmente o espírito que se cria quando nos comprometemos a ser melhores e temos uma equipa a trabalhar para chegarmos lá. Foi a nós que as derrotas mais doeram (principalmente no ego) e fomos nós que melhor saboreámos as vitórias. 
Sinto que a nossa equipa Olímpica somos nós - o Pólo Aquático Feminino da Académica no final dos anos 90 e início dos 2000 - e que a maior parte dos adversários são o Belenenses (com jogadoras de dois metros vestidas com roupões personalizados e fofinhos) e, por isso, faço vénia e encho-me de orgulho pelos atletas aos que foram ao Jogos, tenham (és grande Telma!) ou não voltado com medalhas.

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