Just say no.


Estava a ler o livro da Bea Jonhson quando me comecei a questionar sobre o quão bicho raro seria e quão mais bicho raro poderia ser. O tema em questão está relacionado com o primeiro "R" que rege a filosofia de Zero Waste: Refusal. Recusar parece um princípio simples mas na realidade em algumas situações pode parecer um bocado bizarro. Os exemplos que ela dá dizem respeito a rejeitar brindes que possam vir com alguma celebração (party favors e party treats), não usar os kits dos hotéis, não aceitar aquelas pastas cheias de tralha que dão nas conferências e eventos do género, não usar sacos para transportar algo de novo que possamos comprar... De facto, já há coisas que faço e outras que já ponderei fazer mas não me sentia confiante suficiente para fazer. Por exemplo, se estou em casa de alguém bebo água da torneira mesmo que me ofereçam água das garrafas de plástico porque lembro-me sempre do tal "continente" de plástico que há algures no Pacífico. Os donos da casa ficam sempre incomodados mas acho que podemos confiar nos nossos sistemas de controlo da qualidade da água. As meninas da Rituals tentam sempre convencer-me que, o saquinho onde é suposto o creme de corpo ir, "é muito jeitosinho e pode dar jeito para outra coisa" mas acabo sempre por pôr o creme na carteira perante muitas cabeças a abanarem em negação. Na Zara, por exemplo, não tenho lata para dizer que não quero saco, mas acho que vai ser o próximo desafio. Passando para a comida, outra coisa que acontece é dizer que não quero do o arroz/batatas/salada que está previsto numa dose, por exemplo, do H3. "Não quer?! Mas olhe que é seu e está a pagar por ele?!". Está bem, mas se não vou comer devo deitar fora só porque paguei? Eh pá, que faça bom proveito a alguém. Com a miúda passa-se o mesmo. Cá em casa não há doces de nenhum tipo: rebuçados, gomas, chocolates, cereais de pequeno almoço, chupas, bolachas de chocolate, pães recheados, sumos... Não há! Na rua também não lhe damos nada do género e por isso metade das coisas ela não sabe o que são e não sabe como se comem. Isso está controlado. Mas e quando oferecem? Não me esqueço que no último dia 1 de Novembro lhe ofereceram um chupa, pelo Santoro, e ela olhou para mim sem saber o que fazer àquilo. Depois olhou a pessoa que ofereceu e eu expliquei: "ela nunca comeu chupas ou rebuçados". Se houvesse ali um telefone parece-me que teriam chamado a protecção de menores! Que raio de mãe que não dá doces a uma criança com 2 anos e meio?! Hoje em dia, se vir que é uma coisa inofensiva, informo que ela não costuma comer doces e que por isso é capaz de não querer ou de não comer tudo (que é o que normalmente acontece). Quando é alguma coisa que não quero mesmo que ela coma (gomas, sumos radioactivos, bolachas cheias de açúcar) digo que não e recebo o olhar "olha-me esta tem a mania". Foi mais ou menos o mesmo olhar, acrescentando um "cabra" lá pelo meio, que recebi dos animadores de um parque aquático este Verão, quando não parei para tirar a fotografia da entrada. Ora, se eu já sabia que não a ia comprar por €7 à saída, porque raio havia eu de a tirar e "obrigar" alguém a imprimi-la para depois ir fazer lixo para qualquer outro lado? Também levei com a "la mirada", aqui há anos, no Rock in Rio por não querer metade da cangalhada que andavam a oferecer. 
Isto tudo para dizer que vou passar a dizer não mais vezes! Não aos brindes de ofertas, não aos flyers que são distribuídos na rua, não às garrafas de água, não aos sacos... Não! Não resolve, vai continuar a haver toneladas de coisas inúteis a fazer lixo mas pelo menos não sou eu a responsável por isso. A Bea, às tantas, diz no livro, que não há motivo para nos sentirmos desadequados socialmente, mas acho que é inevitável sentirmo-nos um bocadinho bicho do mato...

Comentários

  1. Ela é muito hardcore. Quando é em lojas e assim acho mais fácil recusar, agora quando é a família e as mães dos outros miúdos é mais difícil. Coisas que não percebo: a)porque é que as mães de miúdos de 2/3 anos oferecem gomas quando os miúdos fazem anos (envio diretamente para o lixo qd chego a casa) ou porque dão brindes parvos nos casamentos e batizados (ninguém usa, ficam a rebolar lá por casa e os noivos poupavam dinheiro). Também ando cada vez mais a tentar recusar tralha...mas há situações que são realmente muito difíceis...e ainda não me apetece ter chatices. bjs

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    1. Estou contigo no ponto a). Essa tralha toda leva logo chá de sumiço mal chega cá a casa. O mesmo com os brindes das festas. Quando fiz o baptizado da miúda não quis oferecer nada (chamem-me forreta mas acho parvo gastar dinheiro que de certeza que vai parar ao lixo ao fim de seis meses quando ninguém se lembrar da festa) mas as avós lá ofereceram coisas à socapa para não ouvirem sermão! Acho que é um processo... Havemos de lá chegar sem que as pessoas achem que somos aves raras!

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    2. as avós... tocaste no ponto fraco... as avós são as "arautos da tralha" lá em casa... é um processo mt difícil esse.

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  2. Gosto muito destes posts, aprendo sem ler os livros (nunca tentei esse género de livros, só romance, não sei se ia gostar, custa-me largar a guita) e deixo de me sentir menos alien. Haja alguém que não dá lixo comestível à criança! O olhar de "olha-m'esta c'a mania" que me deitam quando digo que o miúdo não come rebuçados, chocolates, chupas, bolachas, cereais, etc., só é ultrapassado pelo que recebo quando digo que ele quase não vê TV (um, dois episódios por dia no computador chegam bem). Acho essencial recusar sacos e comida que não vamos comer, cada vez mais, mas nunca me tinha lembrado do impacto que essas tralhas que oferecem em tantos sítios poderiam ter. O meu próximo passo para uma existência mais "limpa" vai ser comprar sacos recicláveis para o nº 2 da cadela (vamos ver os preços). Os outros não sei mas esta faz 3x ao dia!! Assim numas contas rápidas já usámos 7665 sacos (!!!) só com ela nos últimos 7 anos. o_O Bjs

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    1. Eu tenho uma confissão: a TV... ainda não consigo controlar a coisa porque eu própria sou um bocado agarrada! Mas nada como o dia 1 de Setembro para começar uma nova tentativa!
      Não fazia ideia que havia sacos reciclados para os cocós dos cães! A Manga também faz 3 por dia... Diz depois o que descobrires sobre o assunto.
      Quando aos livros, faço-te a mesma proposta que vou fazer à macaca: um dia combinamos um café e eu empresto-te. O que dizes? (Até pode ser que os nossos miúdos possam brincar e dar um pausa às mães!)
      Diz coisas!

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    2. Opá, desculpa! Desapareci... Ando meio louca, regresso às aulas, entrada do peixinho na escola, mil almoços e visitas de família, etc. Ainda vim cá responder mas deixei mensagem a meio e querido marido fechou tudo a eito! Mas podemos combinar um dia, sim. Já vou procurar a Maria Granel para ver onde é!

      P.S. - queria dizer sacos biodegradáveis! Meu deus, ando mesmo burra.

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  3. eh pá estou a adorar estes teus posts... a sério... têm-me posto a pensar sobre muita coisa... hoje estive com o livro da Marie Kondo na mão... estive vai não vai para comprar, mas depois prefiro vir aqui ler a sinopse eheheheheheh.

    PS - a foto deste post está um must. miúda tão doce

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    1. Para a semana devo ir à Maria Granel, se quiseres combinamos um café e empresto-te o livro. O que me dizes?
      Beijinhos

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    2. sim!! quero! tb preciso de lá ir, mas para mim só dá ou de manhã cedo ou ao final da tarde. envia e-mail para aquele e-mail que tu sabes :)

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  4. É bom saber que não estou sozinha nesta "luta" =) resta concentrar-me no sorriso da senhora da Zara ("devia haver mais gente como a senhora") e esquecer o ar de desdém da senhora da Worten ("não, não preciso de mais um mini saquinho de plástico que não leva mais nada a não ser esse micro tinteiro!!"; "Tem a certezaaaaaaa?").

    Bora lá cortar no superficial =)

    Sofia

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