Quem me conheceu durante aqueles anos manhosos da adolescência, e vá, inícios da idade adulta (quem por aqui andar desse tempo, que se manifeste), ter-se-á certamente apercebido da minha admiração doentia pelo Sérgio Godinho e pelo Jorge Palma. Cassetes ouvidas até a fita ficar gasta, letras das capas de CD decoradas até não falhar uma vírgula e tudo quanto era aparição destas duas almas aqui no burgo, negociadas à exaustão com os poderes parentais e com os amigos (que na sua maioria partilhavam esta afinidade).
Guilhim Maria em adolescente com o seu casaquinho comprado na feira da ladra pela mana e que serviu para 256 dias do ano de 1996, tempo de duração da fase freak-ó-cenas. Foto da autoria da Diana
Tempos em que as certezas e as vivências tiveram inevitavelmente o som desta banda sonora e se sabia, no fundo de um coração de batimento hormonalmente descompensado, que "esta letra foi escrita para mim!"; em que se vive o deslumbramento da genialidade da escolha das palavras e das melodias únicas mas tão evidentes... E depois, as paixões platónicas, as viagens, as guitarradas entre amigos, tudo tem em pano de fundo o "Rivolitz"; o "Bairro do Amor", o "Aos amores", o "Só"... e todas as outras músicas soltas que se colavam às fitas magnéticas ou às bolachas do prateadas. Quantas vezes o tom dramático das letras fazia cair lágrimas sentidas a que se somavam problemas tão sérios quanto: quem sou? porque não tenho eu "aquelas" calças? porque é que ele não olhou para mim quando estava na fila da cantina... [mas escolheu carne, tal como eu... somos almas gémeas]... Problemas desta natureza grave e incontornável!
Guilhim Maria em adolescente com o vestido tingido e comprido comprado na festa do avante pela mana (e respectivo colar de pedra não-sei-do-quê-mas-soa-fixe) que serviu 234 dias do ano de 1997, tempo de duração da fase hippie-ó-cenas. Foto da autoria da Diana
Fazendo o cancioneiro destes dois senhores dos momentos mais estruturantes do meu ser, como aceitar agora estes novos álbuns?! Uma das músicas do disco de Jorge Palma é ele a descrever a dificuldade em compor uma música, com os mesmos acordes de sempre. Talvez por ter imagino a figura dele, com ar de gozo, obviamente tocado por algum desinibidor químico a dizer aos amigos com ar condescendente como se faz uma música em três tempos, deixou-me desconsolada.
Já o Sérgio Godinho... comme ci comme ça. Não me provocou as emoções de admiração do costume... aliás de costume, só mesmo a sensação de que "já ouvi isto"...
Das duas uma: ou já não sou adolescente ou eles estão uns furinhos abaixo do que já foram. Seja como fôr, ainda não é desta que desisto deles... temos um passado demasiado longo juntos!
Ora aí está um post bem escritinho... e com o qual, sadiamente, me identifico. O Só, do Jorge Palma, foi, durante algum tempo, a minha definição de catarse, apesar de na altura não saber o que a palavra significava. Os últimos álbuns são desilusórios... O Jorge Palma, há que admitir, está à beira da extinção criativa, enquanto o do Sérgio Godinho soa a um lifting do "Lupa", com duas músicas orelhudas e várias (demasiado) parecidas entre si... Agarra-te aos Três Cantos, com o Fausto e o JM Branco. Isso sim, é de valor. Mas, o que é que isso interessa?! São os dois, dois dos maiores... com obra, com mensagem, com significado, com vida... Gostei da foto de 1997! Recuei aos meus 16 aninhos, em que descobria música de jeito, num (hoje) anacrónico DiscMan, no caminho para a D. Dinis, para as aulas ou para os treinos do voleibol. Bjs
ResponderEliminarAndas a ler-me os pensamentos... :)
ResponderEliminarTenho andado a cismar à séria com isto!
Infelizmente penso que a razão desta desilusão (é que é mm uma desilusão...) não está no facto de termos uns aninhos a mais (muito pouquinhos, ehehh).
Jokas
psilipe: o caminho para a D. Dinis era o melhor meio para a descoberta de boa música... à falta de boa companhia!
ResponderEliminarAnnusca: eu cá acho que as culpas são de facto da idade: da nossa e da deles!!
Recordações de tempos vividos, onde as verdades eram absolutas, e os sentimentos e emoções andavam sempre ao rubro!
ResponderEliminarQue bom relembrar! Parabéns pelo espaço!
Beijoca
André!! Que bom ver-te por aqui!! Tu eras dos que partilhavas comigo o caminho da escola para casa!!
ResponderEliminarBeijos grandes! e continua a aparecer!
É verdade! Partilhamos o caminho escola casa, as mesas do Mutamba, festarolas e fins de ano... Bons tempos, tempos que me deixam muitas saudades! Saudades dos amigos e dos momentos...
ResponderEliminarVou continuar "aparecer" com certeza!
Tudo de bom para ti! ;)
Beijoca grande