Ao lado... mesmo muito ao lado!

É raro trazer assuntos de trabalho aqui para o Ver(de)água, mas este não podia deixar passar!
É bom que a Antropologia (biológica) seja divulgada, mas assim não! Para romance não está mau, mas não podia estar mais longe da realidade do que na realidade fazemos, quando fazemos ciência!

Diário de Notícias, 2 de Fevereiro de 2009
O SISMO DE 1755 CONTADO PELOS OSSOS DAS VÍTIMAS

PEDRO SOUSA TAVARES
Ciência. Assassínios, provas de canibalismo, marcas da violência dos desmoronamentos, incêndios e tsunamis.

Desde 2004, uma equipa de investigadores portugueses vem revelando os segredos do primeiro ossuário conhecido das vítimas do terramoto de Lisboa. Já ganharam prémios internacionais, mas continuam a trabalhar de graça e sem apoios.

(pois eu não os queira... mesmo de graça!)

Durante alguns minutos de terror, o assassino golpeou-lhe repetidamente o crânio, sem a matar, para que falasse. Procurava ouro e prata, ou alimentos escondidos, igualmente valiosos nos dias de anarquia que se seguiram àquela manhã de 1 de Novembro de 1755, dia de Todos os Santos.
(estou comovida... em tempo de nomeação para os Óscares, dava um bom candidato a melhor argumento)

Talvez tenham ouvido os seus gritos, antes do golpe na fronte que lhe acabou com a vida aos trinta e poucos anos. Mas, depois do terramoto, das ondas de seis metros que varreram a zona ribeirinha, e das chamas que consumiram grande parte de Lisboa, quem não morrera ou fugira já só pensava na própria sobrevivência.
(e o filme continua...)

A história da sua morte violenta teria sido apagada sem rasto. Tal como a de muitos outros crânios com sinais evidentes de agressão, incluindo, num caso, uma marca de bala esférica. Ou ainda a surpreendente revelação de um fémur com cuidadosos cortes de uma grande faca, prova "irrefutável" de que a fome levou alguns ao recurso extremo do canibalismo.
(isto porque o terramoto só matou os humanos... animais que normalmente eram comidos, surpreendentemente sobreviveram e desataram a fugir para não serem consumidos como normalmente acontecia pré e pós terramoto!... faz lembrar um bocadito o Ensaio sobre a cegueira, mas para mau!)

Mas uma improvável soma de coincidências ditou que o primeiro ossoário conhecido de vítimas do terramoto surgisse na Academia de Ciências, instalada desde 1836 no Convento franciscano de Nossa Senhora de Jesus. E que fosse alguém capaz de perceber a sua importância a fazer o achado.

Em Junho de 2004, Miguel Telles Antunes, director do museu da Academia, inspeccionava as obras de remoção de paredes e do chão de cimento numa das alas do claustro, onde funcionara uma biblioteca, quando algo atraiu o seu olhar. Do solo, emergia parte de uma caveira. "Literalmente tropecei nela. Ia-lhe dando um pontapé sem querer", confessa o paleontólogo.
(caveira?!?! será a de cristal do Indiana Jones... aí tudo faz sentido, já que continuamos no âmbito dos filmes)

"Naquele claustro existem várias sepulturas, lembra. "Encontrar uma caveira era normal. O que me alertou foram os restos de um peixe de tamanho razoável, que estava ao seu lado. Uma situação muito invulgar."
(um senhor "Antropólogo" falar de caveiras dá-me um certo arrepio... se não fôr Antropólogo, até se desculpa!)

As obras foram interrompidas.Pelo telefone, Telles Antunes pediu ajuda a José Luís Cardoso, professor catedrático da Universidade Aberta. "No dia seguinte fui ao local e verifiquei imediatamente a importância do achado", explica o arqueólogo. Com a autorização do (já extinto) Instituto Português de Arqueologia e um "pequeno subsídio" da Fundação Gulbenkian - o único apoio até à data -, começaram meses de escavações, enquanto Telles Antunes recrutava investigadores entre os seus contactos.

"Misturados com terra e restos de animais, dispersos alguns centímetros acima de sepulturas anteriores, ossos dispersos de centenas ou mesmo milhares de indivíduos assemelhavam-se mais a montes de entulho do que a materiais de interesse científico. Mas o que estas sepulturas colectivas revelaram e continuam a revelar ultrapassa tudo o que se conhecia sobre a época.
(mas quê?... agora sabemos mais sobre a "época"?)

"Sabemos que houve violência, enquanto não foi possível restaurar a ordem, com o recurso a julgamentos sumários e mais de 40 enforcamentos", diz Telles Antunes. "Mas os ossos contam as suas próprias histórias. Hoje a descarnação e o canibalismo compreendem-se perfeitamente num contexto de fome. Mas quem é que ia falar em canibalismo na época? Seria uma vergonha para o País."
(ah!.. já cá faltava o velho e bom canibalismo!!! ou será só velho?!?)

Através dos ossos confirmou-se também a violência dos elementos, com crânios literalmente rebentados por temperaturas que terão chegado aos mil graus. Para a investigadora Cristiana Pereira, abriu-se ainda uma janela sobre as doenças, as carências, o quotidiano de toda uma geração que viveu há 250 anos (ver texto em baixo).
(catapum!!! o som do crânio a rebentar! o senhor esqueceu-se e fazia falta para dar mais emoção ao texto!)

"Outros objectos, como cerâmicas, restos de vestuário, amuletos, medalhas e moedas - algumas, de prata, com alterações cloretadas, sugestivas de que os corpos poderão ter estado em contacto com água salgada - foram analisados pelo cónego Manuel Lourenço, da Chancelaria do Patriarcado de Lisboa, dando importantes pistas sobre a sociedade da época.
(com a ajuda do Senhor Cónego a "época" já não tem segredo!)

E tudo isto, lembra José Luís Cardoso, é fruto de uma escavação que abrangeu apenas "metade da ala sul" do claustro. "Temos razões para acreditar que a ala este também poderá ter sido usada para depositar restos humanos", diz o arquéologo, que confessa que um dia, "se surgissem os apoios", gostaria de retomar os trabalhos.
(rarissímo... um contexto religioso servir para depositar restos humanos!)

Para já, a muito adiada publicação de uma obra sobra os resultados da investigação, a aguardar melhor atenção pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, já seria recompensa suficiente para os investigadores.
FIM.

Espero não ter exagerado na ironia, mas não há como levar de ânimo leve uma publicação deste tipo, já descredibiliza e dificulta o trabalho de quem encara a Antropologia como uma ciência e não como um meio de intertenimento, exposição de bizarrias e necrofilias!

Não acreditem em tudo o que leêm... por favor!
(Alguns dos comentários foram inspirados por colegas de sala)

Nota: em itálico encontra-se o texto tal como foi publicado pelo Diário de Notícias; a negrito e entre parentises estão os meus comentários.

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