Gelados, branca, rock'n'roll... e igualdade de género



Vamos imaginar que havia uma música portuguesa daquelas orelhudas e que agora toca em tudo quanto é lado e cujo o público-alvo, arrisco-me a dizer, está entre o adolescente e o jovem adulto.
O estilo é ali a roçar o Bruno Mars, featuring Jay Z. A letra até é uma coisa atirar para o fofinho que até podia ser usada num pedido de casamento. Não é bem a minha praia mas não é o estilo de música que me incomoda.

Agora vamos imaginar que o vídeoclip é algo que passa do enamoramento infantil gradualmente para cenas implícitas de vários tipos de sexo, alternados com insinuações de consumo de cocaína e ácidos e termina com momento de ternura geriátrica. Pareceria mentira, certo? E se pelo meio houvesse gelados com fartura à mistura. Classificaríamos a coisa entre o non-sense e o sem-gosto?

Acho que não sou tacanha, nem puritana. Sou toda a favor da liberdade de tudo e mais alguma coisa. Tudo certo. Mas depois tento perceber a mensagem e fico baralhada! Como é que tanta coisa de universos diferentes pode ser misturada… de forma tão absurda… e passar mensagens tão poucochinhas (para não dizer perigosas mas não quero parecer bota-de-elástico… intensão que ser perde mal escrevo bota-de-elástico)? Quem foi o guionista/realizador que disse: “fixe, fixe era filmarmos a moça a baixar-se junto das pernas do rapaz como se lhe fosse fazer um broche” corta para “a seguir pômo-la a snifar uma linha ou a meter um comprimido? que se foda… faz as duas coisas!”, corta para “quantas vezes já mostrámos as mamas da rapariga, duas? mais uma, vamos lá!”. É que é tudo mau!

Nada contra a banda. Não acho que tenham que assumir uma missão de valorização social a cada música que fazem. Não têm que ter essa obrigação. Podiam ter essa preocupação mas os objectivos do grupo podem, com toda a legitimidade, não passar por aí. (E quem não gosta desta postura, pode, com toda a legitimidade, não comprar a música e não ir a concertos). Admira-me é não ouvir as vozes que reivindicaram para si a denúncia de atitudes misóginas e que normalmente falam tão alto. Capazes desta vida, sim senhora, chamar a criança de princesa, numa campanha anti-tabágica não pode porque retira o poder à moça (?!). Fazer tudo o que está descrito acima, está, oh, impecábel! Afinal é coisa para só ser vista por vários milhares de miúdas que tendem a identificar-se com este tipo de música, logo com quem a representa no vídeo clip! Há que saber escolher as nossas lutas, compreendo…

Para quem quiser saber: videoclip da música Limbo dos Expensive Soul

Comentários

  1. Não conhecia o vídeo e, realmente... mete um bocado de nojo crianças no parque estarem misturadas com pessoal que vai para uma casa de banho pública aliviar-se ou meter pó no nariz. Deve ser muito cool, então para estes jovens que ainda não conseguem filtrar estas coisas, é mesmo fixe.

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  2. Opah até fiquei com pena... a ideia estava tão gira... se não se tivessem perdido no sexo quase explicitos, na coca, nos ácidos, tinha ficado brutal, especialmente com os velhinhos no fim...

    Assim mais parece, que a droga faz parte, ou seja, a mensagem parece esta, namora, casa, viaja, faz sexo em casas de banho publicas, consome várias drogas, chateia-te, faz as pazes, têm filhos e serás um velhinho feliz...

    É mesmo isso que querem partilhar?

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  3. Pois... a mesagem (ou falta dela) é que decepciona e não é pouco!!
    Assinado: a dona deste blog que o blogger não está a reconhecer

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