Cozinha hipster


Ontem tive uma epifania: os programas culinários em Portugal são hipster! Passo a explicar porque reconheço que esta não é uma relação simples de estabelecer.

A entrada no novo milénio levou-nos os programas de televisão com cozinheiros e trouxe-nos episódios de preparação de alimentos com chefs jovens, descontraídos e barbudos. Parecendo que não, a verdade é que isto constitui uma mudança tremenda. Os saudosos (ou nem tanto) Gouchas em formato 40cmx40cm usavam (bigode) um leque mais ou menos restrito de utensílios de cozinha, ingredientes e linguagem técnica facilmente identificável por quem não tinha medo de se aprochegar da cozinha e preparar refeições caseiras. Hoje em dia, os programas dos nossos chefs mostram-nos um sem fim de ingredientes mais ou menos bizarros, biológicos (como se os houvesse de outro tipo), frequentemente caros e que não existem nas cozinhas comuns. Há um sem fim de etapas para cumprir, com nomes técnicos dignos de serem adaptados a animais de estimação - "'cá à dona Ganache" - que vão resultar num mundo de loiça para lavar. Tempo, a meu ver, melhor empregue à mesa para saborear a companhia e a refeição. E depois o desperdício que se sente como uma facada nos dias que correm: a cenoura, a courgette e demais legumes devem ser cortados numa mandolina (que tooooddddaaaa a gente tem) com um certa inclinação (que vai fazer toda a diferença) o que leva a que metade dos produtos vão para o lixo. Mas tudo isto resultará num prato de aspecto rústico, casual, descontraído que qualquer um com um par de pinças (e estou a falar daquelas de laboratório mesmo!) e um arsenal de bisnagas conseguirá reproduzir! 


(Dica: se houver por aí que se ajeite na cozinha e que tenha ideias para receitas engraçadas que não impliquem ir à falência, ter um pequeno armazém com um arsenal de utensílios, tirar um dia de férias para preparar um almoço e que ainda tenha paciência para ensinar aquelas coisas que não se aprendem com as mães, então que se chegue à frente com um programita! Eu sei que não falhava um!)

Comentários

  1. Sooo true.
    Não faço ideia do que seja uma mandolina, não estou para ir comprar utensílios que servem para fazer receitas que dão imenso trabalho (nisso, tem piada o anúncio da coca-cola, com o fácil fácil) e também não estou para andar todos os meses a comprar os produtos do Corte Inglès, que podem ser muito bio e orgânicos e não-sei-quê, mas não ganho para largar 50 euros por um cestinho de verduras.

    Além disso, pela bloga afora vou vendo sites de receitas, geralmente, com fotos muito apetecíveis e tal, mas são sempre coisas que demoram a fazer e requerem um sem-fim de ingredientes (sempre com 2 ou 3 daqueles que sabe-deus onde os desencantam).

    No dia em que apanhar um programa/blogue onde cozinhem coisas em 15 minutos com um máximo de 6 ingredientes (todos encontráveis no Pingo Doce), falamos.

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  2. O que é uma mandolina e um ganache??? Eu cá faço na minha cozinha a comida tradicional portuguesa, e lá em casa todos me elogiam, ás vezes vejo esses programas, e tiro ideias e adapto aos ingredientes que tenho e posso comprar, pois há coisas para lá de caras. Eu cozinho a olho, nao ando cá com medidas, e nem provo, eu oriento-me pelo cheirinho que fica pela casa :) sou muito pratica. Ja o meu principe suja a louça toda para fazer uma refeição simples que por vezes nao fica no ponto certo do comestivel. O que importa é a intenção :)

    beijinhos

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  3. Por essa net fora há montes de blogs de culinária, sendo que alguns têm coisas fixes, que não usam ingredientes ou utensílios estranhos - mas dá trabalho. Eu vou vendo os blogues e guardo os links das receitas num programa de word. Quando quero algo diferente vou lá procurar pelo títulos o que é possível fazer naquele fim de semana. Há receitas que foram colecionadas há anos e ainda não chegaram ao tacho...

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